E se seu corpo não fosse seu?
Atualmente, uma mulher só é considerada de “boa aparência” se for
jovem, já que a publicidade, a indústria da moda, dos cosméticos e os
consultórios médicos oferecem produtos e intervenções que estariam ao
alcance de todas. Dessa forma, sentimo-nos culpadas e deslocadas se não nos
enquadramos nesses modelos de juventude e beleza, sendo que nosso corpo é
considerado uma massa amorfa que pode ser moldado por profissionais das áreas
da saúde e da estética.
Podemos até envelhecer, mas não podemos deixar que os outros percebam. Temos
que preencher os sulcos da face, tirar as rugas que aparecem ao redor dos
olhos, malhar para enrijecer os músculos, manter (ou tornar) os seios fartos
e firmes.
Em matéria recente publicada na mídia, as mulheres foram informadas que,
agora que já estão com seus rostos “plastificados” e padronizados, devem
se preocupar com as mãos, pois elas não escondem o envelhecimento. A
matéria inclusive informa que, provavelmente, a pop star Madona usou
luvas em seu último show para esconder as marcas do tempo que teimam em
aparecer e fazem os fãs lembrarem que ela já não é tão jovem. Mas não
desanimemos, pois os profissionais explicam que já existe uma técnica de “preenchimento
de mãos” pela qual poderemos esconder nossa idade por mais algum tempo.
Cabeda (2004, p.171) em seu artigo “A ilusão do corpo perfeito: o discurso
médico na mídia” que diz que “em um futuro próximo as mulheres que não
se submeterem ao padrão [estético] cirúrgico poderão ser estigmatizadas,
vistas como desviantes e consideradas, no mínimo, negligentes com seu
bem-estar. É espantosa a variedade e a quantidade de formas de exclusão que
o homo sapiens é capaz de inventar.”
Vive-se numa sociedade cuja construção da imagem do corpo saudável
(independente de ser ou não realmente saudável) preconiza como fato o
indivíduo se parecer belo e saudável. Isto é decorrente de um processo de
estetização da vida cotidiana e das influências da cultura de consumo, na
qual realidade e imagem são consideradas sem distinção. Neste processo, a
mídia cria ícones de beleza e saúde, produz modelos a serem seguidos e que,
muitas vezes, são tipos distorcidos de beleza e até de saúde.
No que se refere à estética do corpo, o que se pode ver, hoje, é que as
mulheres estão deixando de visar à sua saúde em função da aparência de
seus corpos. Elas estão mais preocupadas com sua aparência física, com sua
beleza, e não se importam com o fato de que isso possa interferir em sua
saúde, como se esta fosse uma questão fundamental para serem vistas com bons
olhos nos diferentes grupos sociais em que vivem.
Se o ser humano em geral, atualmente constrói seu corpo visando a "ditadura" da beleza atual e da sociedade, eu deixo uma pergunta para vocês: Até onde o corpo que você esculpe e constrói é seu? Até onde os limites da personalidade vão cruzar com os da sociedade?
Referências:
CABEDA,
Sônia L. A ilusão do corpo perfeito: o discurso médico na mídia. In:STREY,
Marlena; CABEDA, Sônia; PREHN, Denise (orgs.) Gênero e Cultura: questões
contemporâneas. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2004.
Beijos da Lú!!!!
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